Nas ultimas aulas reconstruímos duas ideias muito influentes na historia do penamento ocidental. A primeira é a ideia que nunca estamos direitamente em contato com a realidade externa (física). O objeto direito de nossas percepções - o que estamos vendo em cada momento, por exemplo - nunca é um objeto externo independente de nossa mente, e sim um objeto mental.
Essa ideia, a ideia que estamos encerrados num "véu de percepções", dominou a cena filosófica a partir (ao menos) da idade moderna, até a primeira metade do seculo passado. Estes intermediários entre nos e o (presunto) mundo exterior foram chamados de formas diferentes por diferentes autores, e cada uma dessas noções é sutilmente diferente das outras. Exemplos são: "ideias" (Berkeley, Des Cartes), "impressões" (Hume), "representações" (Kant), "dados sensoriais" (Russell, Moore, Ayer)...
Esta ideia foi fundamental pelo desenvolvimento do idealismo, de um lado, e da filosofia da ciência no outro. Como resulta claro das considerações de Berkeley e Hume, esta ideia, conjuntamente com o princípio empirista que os conceitos com os quais pensamos (racionalmente) sobre o mundo originam ultimadamente na experiencia sensível, nos força a ser céticos (Hume), se não idealistas (Berkeley), a cerca da existência do mundo exterior.
A esperança racionalista que o inteleto humano poderia "perfurar" o véu das percepções por meio de conceitos inatos (a priori), se revelou vã. A tentativa mais influente e sistemática neste sentido é o assim chamado "Idealismo Transcendental" de Immanuel Kant. Quem for curioso de saber como Kant (um racionalista) pretende limitar as teses idealistas do empirista Berkeley, pode ler o (breve) parrafo "Confutação do idealismo" na segunda edição de Kant - Critica da razao pura. (a introdução desse texto é leitura obrigatória para todos).
Os curiosos de historia das ideias podem ler (online) o texto "Materialismo e Empiriocriticismo" de Vladimir Lenin, por uma reconstrução critica da ideia geral que estamos discutindo.
Na filosofia contemporânea (entendida como filosofia que esta sendo feita hoje, e não como "Filosofia do seculo XX"), a tese que os objetos direitos das percepções são objetos mentais é chamada de "Realismo indireto". A tese oposta é chamada "Realismo direito".
A segunda consequência relevante da aceitação quase universal do realismo indireto foi a influente critica de Hume (e Berkeley) á indução e á noção de causa. Boa parte da filosofia da ciência até hoje pode ser pensada em relação aos problemas levantados por Hume no seu clássico: Hume - Ensaio Sobre o Intendimento Humano. Nos párrafos iv, v, vi e vii deste texto (leitura obrigatória), Hume argumenta a impossibilidade de fundar racionalmente o principio de indução, tanto a priori quanto a posteriori. Foi a leitura destas paginas que "acordaram" Immanuel Kant do seu "sono dogmático".
Por uma reconstrução concisa ao problema da indução, leiam o capitulo 6 ("Sobre a indução") do texto Russell - Os Problemas da Filosofia.
Leituras Essenciais:
Hume - Ensaio Sobre o Intendimento Humano (párrafos iv, v, vi e vii)
Russell - Os Problemas da Filosofia (capitulo 6)
Kant - Critica da razao pura (Introdução)
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