

A lógica
tem sido frequentemente definida como a ciência das leis do
pensamento. Mas esta definição, conquanto ofereça um indício sobre a
natureza da lógica, não é exata. Se "pensamento" é qualquer processo
mental que se
produz na psique das pessoas, nem todo o pensamento constitui um objeto
de estudo para o lógico. Todo raciocínio é pensamento, mas nem
todo pensamento é raciocínio. Por exemplo, é possível "pensar" em um
número entre um e dez, como num jogo de sala, sem elaborar qualquer
"raciocínio" sobre o mesmo. Há muitos processos mentais ou tipos de
pensamento que são distintos do raciocínio. É possível recordar algo, ou
imaginá-lo, ou lamentá-lo, sem raciocinar sobre isso.
Uma outra
definição comum da lógica é a que a caracteriza como ciência do
raciocínio. Esta definição evita a objeção de acima e, portanto, é melhor,
mas ainda não é adequada. O raciocínio é um gênero especial de
pensamento no qual se realizam inferências ou se derivam conclusões
a partir de premissas.
Mas o
lógico não está interessado, em absoluto, nos obscuros caminhos
pelos quais a mente chega às suas conclusões durante os processos
concretos de raciocínio. Ao lógico só interessa a correção do
processo, uma vez completado. Sua interrogação é sempre esta:
a conclusão
a que se chegou deriva das premissas usadas ou pressupostas? Se as
fornecem bases ou boas provas para a conclusão, se a afirmação da
verdade das
premissas garante a afirmação de que a conclusão também é verdadeira,
então o
raciocínio é. No caso contrário, é incorreto. A distinção entre o
raciocínio correto incorreto é o problema central que incumbe à lógica
tratar.
Na ultima
aula tocamos, antecipando um pouco nossa exposição da logica, na importante distinção
entre validade e solidez (correção) dos argumentos.
Um raciocínio é válido
quando suas premissas, se verdadeiras, fornecem provas convincentes para sua
conclusão. Isto é, quando as premissas e a conclusão
estão de tal modo relacionadas que é absolutamente impossível as premissas
serem verdadeiras se a conclusão tampouco for verdadeira. Todo raciocínio (ou argumento) é válido ou inválido.
A tarefa da
lógica dedutiva é esclarecer a natureza da relação entre as premissas e a
conclusão em argumentos válidos, e assim, nos permitir que discriminemos os
argumentos válidos dos inválidos.
Um argumento pode ser valido
mesmo se todas suas premissas são falsa (nesse caso, a conclusão também será falsa.
Por exemplo, considerem esse argumento:
Todas as
aranhas têm seis pernas.
Todos os
seres de seis pernas têm asas.
__________________________________
Portanto,
todas as aranhas têm asas.
Este argumento é
válido, mesmo se ambas suas premissas são falsas, porque, SE suas premissas
fossem verdadeiras, sua conclusão também teria que ser verdadeira.
O termo "sólido"
(ou ”correto”) é introduzido para caracterizar um argumento válido cujas
premissas são todas verdadeiras.
Evidentemente, a
conclusão de um argumento sólido é verdadeira. Um raciocínio dedutivo não consegue estabelecer a verdade da sua conclusão
se não for sólido, o que significa ou (1) que não é válido, ou, se for valido, (2) que nem todas suas premissas são verdadeiras.
Naturalmente,
a logica será de alguma utilidade apenas se nos permite distinguir o
genuíno conhecimento da mera opinião. Como vimos na aula, enquanto
colocamos nossas opiniões ao desafio da justificação, nos enfrentamos
com aparentemente boas razoes para acreditar numa tese e também no seu
contrario. Essa é a circunstancia que os gregos chamavam de aporia. Por
exemplo:
Ou o mal
não existe, ou Deus no existe.
O mal
existe
_________________________________
Deus
não existe
|
Ou a vida
não tem sentido, ou Deus existe.
A vida
tem sentido.
___________________________________
Deus
existe
|
Como
vimos, a razao (por meio da logica) não desespera imediatamente, frente
a essas aporias. Os dois argumentos aqui encima são ambos formalmente
validos. Por tanto SE todas suas premissas fossem verdadeiras, ambas
conclusões seriam verdadeiras também. Mas isso é impossível, porque se
fosse o caso, deveríamos concluir que Deus existe e não existe, ao mesmo
tempo e no mesmo sentido, o que é absurdo (Principio de Contradição).
Cada uma dessas premissas, por tanto, deverá enfrentar a sua vez o
tribunal da razão; ou seja, deveremos nos perguntar quais (boas) razoes,
quais argumentos temos para acreditar (ou não acreditar) em cada uma
delas. E cada um desses argumentos, a sua vez, deverá ser avaliado
enquanto á sua validade e correção.
Todo isso na esperança de chegar a um ponto estável, onde os argumentos considerados são validos e corretos, enquanto suas premissas são certamente, ou muito provavelmente verdadeiras.
O relativismo aletico e epistemologico
Todo isso na esperança de chegar a um ponto estável, onde os argumentos considerados são validos e corretos, enquanto suas premissas são certamente, ou muito provavelmente verdadeiras.
O relativismo aletico e epistemologico
Como vimos, segundo um dogma de moda em muitos ambientes acadêmicos, e muito ridiculizado em outros, a ambição que estamos descrevendo é irrealizável. Seria irrealizável por uma ou ambas as seguintes razoes. Porque a verdade, entendida como correspondência a fatos independentes da linguagem, da cultura ou da sociedade não existe (Relativismo aletico). Ou bem porque a ideia de uma justificação racional, que seja independente da linguagem, da cultura ou da sociedade esta errada (Relativismo Epistemológico).
Quando cientistas franceses que trabalhavam sobre a múmia de Ramsés II (morto em 1213 a.C.) concluíram que Ramsés provavelmente tinha morrido de tuberculose, o sociólogo da ciência Bruno Latour, respeitado em alguns ambientes academicos, e considerado um charlatão em outros, negou que isso fosse possível:
"Como ele poderia morrer devido a um bacilo descoberto por Robert Koch em 1882?"
Latour observou que assim como seria um anacronismo dizer que Ramsés morreu de um disparo de
metralhadora, também seria um anacronismo dizer que morreu de tuberculose. Em suas palavras:
"Antes de Koch, o bacilo não tinha existência real" .
Segundo os adeptos da religião do relativismo, a espareça de se servir da razão para resolver problemas filosóficos é naife e vã. Como tentarei explicar durante nossas aulas, paralelamente á nossa jornada na arte da logica, a mia opinião (motivada racionalmente) é que seja essa moda acadêmica a ser naife e danosa.
Como escreveu profeticamente Bertrand Russell no seu Historia da Filosofia Ocidental:
Bertrand Russell, History of Western Philosophy (1961: 782)
Leituras essenciais
Leam o primeiro capitulo (Introdução) do livro de texto Copi - Introdução á Lógica
No final de cada parrafo, acharam uns exercícios, bem parecidos com aqueles que vão comparecer no exame final. Começem a se familiarizar com eles.
Leituras opcionais
Os interessados ao assunto do relativismo e da moda da escuridão conceitual podem ler as introduçoes dos livros: Bogossian - Medo do Conhecimento e Sokal - Imposturas Intelectuais
Slides:
Aula 2: A logica e seus inimigos
Segundo os adeptos da religião do relativismo, a espareça de se servir da razão para resolver problemas filosóficos é naife e vã. Como tentarei explicar durante nossas aulas, paralelamente á nossa jornada na arte da logica, a mia opinião (motivada racionalmente) é que seja essa moda acadêmica a ser naife e danosa.
Como escreveu profeticamente Bertrand Russell no seu Historia da Filosofia Ocidental:

O conceito de "verdade", como algo dependente de fatos que ultrapassam largamente o controle humano, foi uma das maneiras pela qual a filosofia inculcou, até agora, a necessária dose de humildade. Quando este entrave ao nosso orgulho for afastado, um passo mais terá sido dado no caminho que leva a uma espécie de loucura —a intoxicação de poder que invadiu a filosofia […], à qual os homens modernos, filósofos ou não, estão propensos. Estou persuadido de que essa intoxicação é o maior perigo do nosso tempo, que toda filosofia que, mesmo sem intenção, contribua para isso estar aumentando o perigo de um vasto desastre social.
Leituras essenciais
Leam o primeiro capitulo (Introdução) do livro de texto Copi - Introdução á Lógica
No final de cada parrafo, acharam uns exercícios, bem parecidos com aqueles que vão comparecer no exame final. Começem a se familiarizar com eles.
Leituras opcionais
Os interessados ao assunto do relativismo e da moda da escuridão conceitual podem ler as introduçoes dos livros: Bogossian - Medo do Conhecimento e Sokal - Imposturas Intelectuais
Slides:
Aula 2: A logica e seus inimigos
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